terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

[No Umbral] [Conto] - O sono de Lázaro

Olá, bem-vindos(as) mais uma vez ao Umbral!

Hoje, percorreremos caminhos antagônicos entre a realidade e o sonho.

Qual deles abriga o pior dos terrores? Será a realidade um sonho enquanto sonhamos?

Venham comigo conferir o conto O sono de Lázaro!

Cuidado com as sombras e labirintos, não se percam No Umbral!

Eu sou Orfeu Brocco, seu anfitrião e guia!



O sono de Lázaro

(por Orfeu Brocco)


"O que diferencia o pesadelo da morte é apenas o despertar."
Herbert Sales (1821 - ?)


— Meu Deus! Onde... Onde estou? — sinto-me como se despertasse de um pesadelo, mas meu pavor traz-me dúvidas se realmente estou desperto. Tento mover meu corpo, não o sinto. Deus, não sinto nada! 

Imagino com tremendo esforço o abrir de meus olhos, porém não sinto seus movimentos; se as janelas da alma se abriram de alguma forma, entregaram a mim a mais densa escuridão. Ainda que as palavras tentem explodir de algum lugar, minha voz parece condenada a vagar apenas dentro de mim. Imóvel, sem sentidos, consciente? Inconsciente, vivo, morto ou sonhando ainda?

Passam-se horas talvez. Conjecturo sobre o tempo, mantenho minhas tentativas de percepção. Talvez realmente esteja consciente, sem sentidos. Viver é como apenas existir, quem sabe eu tenha deixado de ser um homem e tornado uma pedra. Felizmente pensar é logo existir. 

Minha consciência parece ter se expandido, sinto que estou em algum lugar, repousado em algo, imagens preenchem meus pensamentos, palavras sussurradas parecem se aglomerar e até mesmo cheiros me vem a memória. Para entreter-me durante o tempo em que estou acordado, imagino muitas coisas, tento me lembrar do que ocorreu, invento pessoas e trocamos confidências. 

Após adormecer, sonhei que estava dirigindo um veículo. Notoriamente o sonho se mostra lúcido e ao tomar nota desta condição, prestei atenção aos detalhes do carro. Instintivamente, enquanto noto a estrada, vejo que ainda é dia, estou em alguma BR. Observo acostamentos e por trás deles uma vegetação densa que se espalha até os olhos perderem a vista. Coloco minha cabeça para fora do carro e sinto o vento no rosto, incrível! Em sonhos eu sinto meus sentidos perdidos e acordado sou apenas uma reles sombra disto. Observo o carro passar por uma placa que indica um hotel:

Desfrute um relaxante descanso no Hotel Gardênia, há apenas 20 minutos de você!

Difícil entender o tempo acordado, mas em sonho lembro do filme "A origem" dizer que 2 horas de sonho se equivaliam a 5 minutos de sono. Assim, tento calcular quanto tempo ainda tenho até acordar, preciso aproveitar cada momento sonhando, acordar será despertar para um pesadelo. 

Vejo o entardecer caindo na estrada, noto mais carros passarem por mim e como em qualquer sonho, o rosto de seus ocupantes é apenas um borrão, mas não me deixo abalar por isso, sigo minha viagem até o Hotel Gardênia, estarei gerenciando um sonho que é também uma lembrança? Preciso manter o foco ou vou enlouquecer. 

Após estacionar o carro, abro a porta e desço. A sensação de sentir os pés tocarem o chão é maravilhosa, giro meu corpo de braços abertos e noto as projeções mentais das pessoas em meu sonho a me encararem. Quando tento prestar atenção nelas, vejo algumas faces por perto que sorriem. Percebo que não lembro quem sou e nem ao menos prestei a devida atenção em como sou. 

Entro pela enorme porta do hotel e viro-me para caminhar até a recepção. Ao olhar para o lado, noto um enorme espelho numa parede: sou um homem, alto, por volta de trinta e poucos anos, calvo, de olhos castanhos e pele branca.

Toco o espelho e observo ao redor, o atendente me olha ressabiado, esperando que eu me anuncie. Viro-me para ele e pergunto por um quarto.

— Sempre há vagas, desde que construíram a nova estrada, poucos passam por aqui — o atendente veste-se como um lenhador, usa jardineira e camisa de flanela, usa os cabelos negros amarrados num coque e sua barba é longa. Ele dá um sorriso de canto de boca. — Bem-vindo, senhor! Meu nome é Osvaldo, qual seu nome completo para registro?

Envergonho-me, meu rosto deve ter ruborizado.

— Pode parecer estranho, mas eu não lembro meu nome! —finjo coçar acima do olho esquerdo e desvio o olhar.

— Uma situação típica, senhor. Não se ruborize, já tentou olhar sua carteira no bolso da calça? — após a sugestão, me sinto mais envergonhado ainda, enfio a mão nos bolsos e retiro uma carteira, marrom, surrada e ao abri-la, pego minha identidade.

Eu sou Lázaro Oliveira, este é meu nome! Vibro com a descoberta, mas não sou somente eu que vibro, olho ao redor do hotel e sinto tudo vibrar.

— O que está acontecendo? — um quadro de Giovani Bargolin que mostra um menino chorando, usando uma boina na cabeça, oscila e cai no chão, as paredes cinzas tremem.

— Ah, o senhor vai acordar, mas não se preocupe, eu manterei seu registro para quando voltares. Afinal, ninguém consegue realmente partir do Hotel Gardênia.

Ao mencionar o despertar, sinto-me desesperado.

—Não! Não! Eu não posso acordar! O despertar é vazio, é o inferno, nos sonhos estou vivo! Vivo! — jogo-me ao chão e choro desesperado. — Oh, meu Deus! Quando acordado eu estou morto! Não!

Durante meu colapso olho ao redor e vejo as paredes derreterem lentamente, como se estivesse num museu de cera. Ao olhar espelho que lentamente vai derretendo, ele exibe a face de Osvaldo escorrendo enquanto ele se segura ao balcão que se esfacela.

Eu grito.

Estou acordado, faz um bom tempo, sinto-me deprimido, mas ao distanciar um pouco de meu estado, percebo algo que não notei antes: levemente o tato está voltando, não sinto movimentos, sei que estou inerte, mas estou sentindo algo! Vibrações curtas se espalham pelo espaço onde estou e isso me dá a ideia de um lugar fechado, sinto sobre a pele um leve roçar, não me parece luz do sol, parece artificial.

Estarei num hospital?

Perco-me em minhas elucidações, em minha mente ensaio uma longa conversa com a figura de um homem que me traz sensações de memorias de infância, tenho certeza. Esforço-me, busco em minha mente por letras e números e ele me diz seu nome, Evandro, e ainda me conta que é um investigador de polícia. Tenho a certeza de que a informação é real, começo a convencer-me que a mente e suas projeções são extensões fantásticas de nossos sentidos, sentimentos, de tudo.

Adormeço.

Neste sonho, vejo que estou dentro de um quarto de hotel, olho na parede e vejo rabiscos em meu nome. Treinei minha mente enquanto acordado para acreditar que quando estivesse sonhando veria isso, temos mais um sonho lúcido para explorar senhores. Observo cuidadosamente o quarto, tem uma aparência de um hotel bem vagabundo, apesar da suntuosidade do Hotel Gardênia por fora. As paredes são verdes, há uma velha TV pendurada, cuja imagem é péssima enquanto um programa exibe lutas de Muay Thay. No chão, um frigobar velho e desligado com a cor branca suja, o piso do chão é marrom fosco, não consigo ver seus detalhes. Pego minha calça jeans enrolada no fundo da cama e me visto, vou andar pelo hotel e percorrer as excentricidades deste sonho. Vou até Osvaldo.

— Olá, Senhor Lázaro, não disse que nos veríamos de novo? No que posso ser útil? — ele escora os cotovelos no balcão e me observa com seu sorriso de quem sempre esta disposto a ajudar.

— Não sei que horas são, a que horas teremos o almoço? — olho a TV que Osvaldo assiste, do outro lado do balcão, sua imagem é muito boa, está passando um filme de terror "Enterrado Vivo". Por um minuto, cogito essa possibilidade e esmoreço.

— O tempo é relativo, pode ser a hora que você quiser, se quiser pode almoçar agora. Vamos tente, peça o que quiser! —volto-me para ele e penso. Enquanto penso bem, observo mais pessoas passarem por ali e dois corredores paralelos oposto de onde vim. 

— Eu gostaria de arroz, com molho de tucupi por cima, feijão coberto por uma deliciosa farinha, uma salada à parte, um delicioso peixe jaraqui frito e uma garrafa d'água — sinto água na boca e ansiedade para comer.

— Boa pedida, já está providenciado, acompanhe a Grazi! — olho para o lado, uma garota baixinha, loira, cujo sorriso é emoldurado por um aparelho ortodôntico, me espera apontando o corredor do lado direito. Ela é uma graça! Ele se abaixa e pega algo embaixo do balcão e, antes que eu acompanhe a garota, me detém e mostra um papel — Deixaram um recado para o senhor de manhãzinha, lá pelas sete.

— Você não dorme nunca, hein, Osvaldo! — ele sorri. Tomo o papel e antes de desdobrar vejo uma caligrafia conhecida exibir meu nome. Enquanto acompanho Grazi, não resisto e olho seu tremendo rebolado. Esqueço-me de ler o recado e o ponho instintivamente no bolso, ela fala sobre coisas corriqueiras, enquanto o corredor parece não ter fim e nem sequer alguma decoração. Na verdade parece apenas um corredor em meio a escuridão. Por quê será que não vejo como é o corredor?

— É que você concentrou todo seu foco em mim. Nem vou dizer exatamente onde! — ela parece ler meus pensamentos e graceja. Quando percebo o corredor já terminou, estou sentado a mesa de um refinado restaurante do Hotel Gardênia. — Eis o seu pedido! — a imagem da comida me faz esboçar um sorriso e uma emoção tão grande que ela se despede logo, pedindo que a chame caso precise de algo. Mas o que preciso é comer, estou morrendo de fome!

O sabor do tucupi e de todo o restante parece estalar na minha língua, é tão prazeroso degustar algo assim, parece que todo o sabor se espalha. Quando dou por mim, terminei de comer,. Lembro-me do recado, enfio a mão no bolso e puxo o papel.

Oi, quer dizer que você veio parar aqui no Gardênia, grande coincidência, estou de passagem e neste exato momento estudando no quarto 314, venha me ver.
F.

Deixo para trás o restaurante e subo lances de escadas ornamentais em formato caracol até o terceiro andar, procuro pelo 314. Não sei porquê, mas alguma coisa macabra parece estar ligada a esse número. Respiro, detenho-me alguns segundos e bato na porta. O leve mover da fechadura faz com que eu preste atenção ao redor e tudo parece oscilar. Ah, não, eu não vou acordar agora!

Quando a porta se abre, vejo uma mulher por volta de uns 26 anos, loira com cabelos cacheados e olhos verdes, um tanto magra, usando uma regata branca e shorts jeans.

— Entra! — ela sorri e me abraça, seu sorriso é lindo. No entanto, sinto uma sensação muito esquisita, como se algo perdurasse no ar. — Nossa! Quanto tempo! — enquanto ela fala, eu me lembro.

Seu nome é Fabiana, nós fomos namorados por algum tempo. Ela mora em uma cidade por onde passei um tempo trabalhando. Recordo-me que sou representante de vendas de uma empresa que oferece estandes montáveis para eventos. Sinto vontade de beijá-la, mas algo me detém. Ela fala que está ótima, tem estudado muito, me pergunta se ainda leio o horóscopo e ri. Sinto entre nós uma relação de amizade, não de paixão, talvez sejam minhas lembranças de um envolvimento real que não terminou lá muito bem.

— Eu te magoei, né? — pergunto encarando os olhos verdes. Não consigo sequer aproximar-me direito dela.

— Magoou sim, Lázaro, mas já passou. Fiquei muito triste quando você foi embora da cidade, não se despediu e ainda não me contou a verdade sobre ser casado. Foram seis meses, Lázaro. E o que você sente? Mas não se preocupe, eu já te perdoei. — meu coração estremece e ambos nos abraçamos. Sinto-me muito feliz ao ouvir aquilo, sinto um sinal de redenção muito grande em mim e assusto-me ao saber que sou casado. Ela ajeita os cabelos após se distanciar e sorrimos.

— Isso é estranho, sinto-me feliz, mas ainda sinto algo estranho por aqui. — observo o quarto dela e vejo que é idêntico ao meu, até o detalhe de uma calça jeans amarrotada na cama. Vejo-a expressar um olhar triste para o lado, passa a mão sobre o rosto, depois volta o rosto em minha direção.

— Você sente isso porque eu estou morta. No seu íntimo, você sabe disso. 

Meu coração congela.

Por minha mente passam imagens de telejornais e fotos de jornal impresso que anunciavam:

Tragédia misteriosa! Cidade no Triangulo Mineiro é encontrada deserta, Humbertlândia está deserta, as ruas sujas de sangue anunciam uma tragédia, ainda sem explicação. 

Meu Deus! Fabi está morta! Morta! Enquanto tais palavras ecoam em minha mente, o quarto de hotel começar a se desfazer.

— Nosso tempo acabou. Sinto muito, entendo seu choque! Lázaro, só tenho um último pedido! Parta deste hotel, você precisa partir, não importa o que qualquer um disser aqui sobre não haver partida, apenas parta, faça isso por mim, por favor!

Tento alcançar a mão dela para me despedir e agradecer, mas sou acordado por estranhos ruídos. Ruídos! Minha audição está voltando. Sinto também picadas em diversas partes do corpo e o leve mexer de meus dedos dos pés. Graças a Deus! Pensei que estava morto e sonhando ou que estivesse no inferno.

Onde quer que seja o lugar em que eu estou, é silencioso, talvez esteja sozinho no quarto de um hospital, sentido reflexos de meus sentidos voltarem pouco a pouco. Talvez por isso a audição esteja tão confusa! Ouço um inexplicável sibilo que se repete e se dobra em ecos e às vezes se alternam em cadências diversas.

Durante este tempo acordado, sinto um corte em meu peito, o sangue começa a deslizar corpo abaixo, é uma cirurgia! Estou tão mal assim? Tento me concentrar nos fatos que ocorrem, mas a imaginação e a consciência, tão treinadas durante este tempo todo, tiram meu foco e me perco do que acontece. 

Estão mexendo dentro de mim! Sinto mãos tocarem meu coração, cuja pulsação quase cessa. É horrível sentir o toque de dedos por sobre a carne do órgão mais vivo do corpo, tal sensação parece durar horas. Sinto uma tremenda aflição enquanto os sibilos se intensificam. Quando consigo me concentrar fervorosamente na realidade, percebo algo aterrador.

As mãos que tocam e retiram meu coração de dentro de mim, não usam luvas, suas mãos são geladas e tem seis dedos. Tal coisa me arrepia de uma forma tão intensa e desesperadora: o que raios está acontecendo, que hospital é esse? Desmaio e adormeço de novo.

De volta ao Hotel Gardênia: seguirei o conselho de Fabiana, irei embora deste hotel. Se ficar aqui, não saberei o que tem adiante e nem tampouco como é a realidade das memórias misturadas a esse sonho. Não perco tempo em visualizar o quarto, estou arrumado para sair e desço as escadas. Passo em frente à recepção.

— Senhor Lázaro, como tem passado? No que posso ser útil? — ele torna a fazer seu gesto característico, apoiando as mãos sobre o balcão.

— Senhor Osvaldo, gostaria de fechar a conta. — anuncio e vejo o sorriso dele tornar-se macabro e assustador.

— Sua estadia aqui no Hotel Gardênia é garantida totalmente de graça, não precisa pagar. — ele esboça um sorriso cordial.

— Fico agradecido. Preciso ir! Recomendarei seu hotel aos outros. — apertei sua mão e ele a segurou com força, esmagando-a.

— Você pode pedir a conta a qualquer hora, pode ganhar todo o serviço de graça, mas não pode partir! — ele berra, todo o hotel treme.

Lembro-me de quem é o sonho, é meu! Agarro seu braço e o ergo pela mão, jogando-o para fora do balcão.

Inexplicavelmente, todo sonho começa a girar, preciso sair! Olho o atendente se levantar e noto um machado em suas mãos, mas nada vai adiantar. Imagino uma porta à minha frente, desvencilho dos golpes do atendente-lenhador, saio pela porta e a fecho. Ao olhar para trás, vejo o Gardênia se afastar e sigo com meu velho Gol branco 98 pela BR, sem saber o que virá.

Sem perceber, despertei. Percebo que minhas mãos estão imobilizadas, há uma aparente calmaria onde estou. Sinto meus batimentos cardíacos e uma imensa coceira por todo o corpo, como se tivesse recebido milhares de picadas. Uma das mãos de seis dedos passa um pano sobre meu rosto. Tento esboçar um movimento, um som, qualquer coisa, porém não consigo, nem sequer vejo alguma coisa ainda. Tento gesticular, mas o corpo está preso. 

Algumas horas se passam e eu imagino um jogo de xadrez com personagens reais em um tabuleiro gigante. Percebo que estou sozinho no lugar e em todo este tempo, o entretenimento diverte minha mente. Sinto-me como se estivesse em recuperação, o sono é muito constante e adormeço mais uma vez.

Em meu sonho, o Gol perde o controle e cai de uma ribanceira, capotando diversas vezes na estrada. Mal tenho tempo para coordenar meu sonho, sinto diversas escoriações, ferros atravessarem meu corpo, enquanto o vidro se rompe em mil pedaços e os cacos parecem lágrimas a cortar todo meu rosto.

Isto não é um só um sonho, é quase que inteiramente uma lembrança. Tento me mover, contudo estou preso às ferragens, ouço a algazarra de pessoas gritando, carros derrapando e coisas se rompendo, provavelmente durante a perda da direção atingi outros carros no caminho.

Sinto uma dor terrível, não quero despertar, nem tampouco sonhar, não quero mais sofrer assim, me tirem destes pesadelos adormecidos e despertos! Por favor! 

Acordo em pânico, me debatendo. Meus sentidos foram restituídos para o pior dos meus azares e de meus horrores! O que é isso, Santo Deus de Misericórdia? 

Meu corpo se debate, tentando desvencilhar as mãos que tentam me conter, vejo centenas de cabos ligados a meu corpo através de agulhas. Estou em uma sala cinzenta em algum lugar, onde por uma janela enxergo apenas uma esfera azul, enquanto meus olhos vão se acostumando de novo a visão. 

As mãos que tentam me conter são gélidas e esguias, começo a berrar quando encaro seus donos. São seres vestidos com uma espécie de manto branco, cuja pele é cinzenta e áspera, longos pescoços a moverem cabeças ovais que me observam através de olhos localizados nas pontas de pequenos tentáculos saindo das suas faces e que se movem para todas direções. Boa parte de onde deveria haver uma face, existe apenas um círculo cujas metades se rompem, abrindo e fechando, emitindo sibilos. 

Minhas mãos quase se livram das amarras, continuo a me debater, rouco quase sem forças de tanto gritar. Dois seres imobilizam minhas mãos, enquanto do teto uma espécie de sonda desce a se aproximar lentamente de meu corpo. Parece um tentáculo metálico, cuja extremidade tem uma ponta a parecer um ferrão. Em um golpe, desmaio.

O que mais acontecerá? O que me resta?

— Não! Não! Lázaro! — são os gritos de uma mulher que chora insistentemente e parece estar sendo contida. Novamente, estou acordando e reconheço o cenário do acidente. Estou dentro do carro, preso, mas ileso, sem ferimento algum. Levo tempo até me convencer de onde estou e o que está acontecendo.

— Dona! Não! Pelo amor de Deus, ele está morto! Não vá até lá! — algum oficial ou enfermeiro contém esta mulher, provavelmente minha esposa. — Espere ao menos os auxiliares retirarem o corpo das ferragens, ele está lá há doze horas

— Não! Ele não está morto, ele está dormindo! — nesse momento, um enorme pedaço de metal é arrancado, provavelmente o que sobrou da porta do carro. — Saia daí Lázaro! — ela grita. O pedaço de metal é jogado no chão e eu já avisto os peritos que me veem intacto e ficam ressabiados. Com todo cuidado ,me retiram dos destroços.

Lázaro vive.


É ótimo retornar das férias!

Vocês podem conferir aqui todos os textos da coluna No Umbral publicados no blog >> Acesse aqui!

Espero vocês trilharem este caminho de volta em nossa próxima publicação!




Orfeu Brocco nasceu em Uberlândia - MG em 1988, casado, atualmente vive em São Paulo. Como autor, suas obras lançadas até o momento são; "Criações Sombrias" (2014) e "Jardins Dolorosos da Babilônia (ou versos ácidos para meu amor, se você preferir)" (2014), além do livro infantil "Hélio e o menino gota" (2015), lançado pela Editora Miranda. Atualmente, desenvolve mais livros e HQs junto dos amigos.

CONTATO: broccoluiz@bol.com.br


9 comentários:

  1. Oiii. Tudo bem?
    Que conto mais intrigante... Fiquei o tempo todo pensando se era sonho ou não.
    Ufá!

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  2. Nossa, que conto mais doido e perfeito!
    Eu amei todo esse suspense e os acontecimentos.
    Cheguei a pensar que ele tava morto, kkk.

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  3. Eita! Que escrita instigante. Adoro um suspense na medida certa, apesar de não ser muito chegada a terror. Também fiquei me perguntando se era sonho ou não. hahaha

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  4. Olá!
    Adorei o conto! É super diferente!
    Estou em uma onda de ler terror e suspense, então esse veio bem na hora suhahusshua
    Adorei!
    Beijos

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  5. Olá, tudo bem???
    Curti demais o conto... como deve ser horrível você não sentir seus movimentos, querer abrir os olhos e não conseguir e ai entra numa espécie de sonho e parece que está mais preso ainda, foi uma agonia danada rs... mas eu adorei!!! Xero!!

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  6. Orfeu, meu amigo, quanto tempo que não lia um conto seu.
    Juro que fiquei com o coração na mão - será uma menção ao seu conto? - ao ler o que você escreveu. Foi muito agonizante - para mim - ler que estavam abrindo o cara me deixou muito mal haha, consegui ver tudo acontecendo na minha mente enquanto lia e isso foi fascinante.
    Quero mais.
    Beijos

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  7. Olá Orfeu!
    Sua escrita é muito bacana e o conto ficou bem apavorante e intrigante, apesar de não curtir muito contos apreciei a leitura.

    Beijokas

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  8. Oi, tudo bem?
    Juro que quase cuspi o coração de agonia lendo seu conto. Imagino essa situação de estar preso, sem movimentos, sem saber o que é sonho e o que é real!!! :o
    Não sou muito de ler terror, mas seu conto conseguiu colocar suspense na medida certa.
    Bjs!

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  9. Oi Orfeu, tudo bem?
    Eu pensei que ele estava em coma no hospital e que no sonho ao pedir para ele não ficar no hotel era para na verdade ele não desistir da vida e voltar. Gostei do seu desfecho. Acho esse assunto interessante, na verdade ninguém saber o que acontece com as pessoas nessas situações. Traga mais contos!!!
    beijinhos.
    cila.

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