Bem-vindos a mais uma resenha de livro nacional!
O livro de hoje foi um presente da autora Bia Onofre! Ela me mandou seu mas recente lançamento: Arroz, Feijão, Crimes e Farofa e/ou O Banquete das Hienas, uma coletânea de contos e microcontos de arrepiar!
Vem conhecer!
Autora: Bia Onofre
Editora: Giostri
Gênero: contos / crimes / terror realista
Ano: 2017
120 p.
Sinopse:
Sexo, desejo, morte, vingança, ciúme, amor. Os contos, nanocontos e romances escritos por Bia Onofre navegam por temas universais que vêm pautando a literatura de autores clássicos como Shakespeare, Victor Hugo ou Garcia Márquez há séculos. No entanto, com uma palavra afiada e sem medo de cortar na pele de quem a lê, a bússola da pena de Bia Onofre aponta para um autor bem mais próximo (no tempo e no espaço) dos brasileiros: Rubem Fonseca. Ao ler a obra, o leitor será convidado a sentar-se à mesa e degustar um cardápio de personagens comuns e insuspeitos, que carregam toda a complexidade da alma humana, mas que, justamente por isso, não deixam de provocar um gosto indefinível em cada história mastigada, que deixará seus olhos de boca aberta. Arregace as mangas e .. bom apetite!
*Obra cedida pela autora no formato físico para resenha. As opiniões são exclusivamente nossas. Não houve nenhum tipo de intervenção em nossos comentários.*
Conheci a escrita da Bia através do seu romance histórico "Restos de Nós" (leia a RESENHA AQUI) e descobri uma autora com a incrível capacidade de ser delicada, cuidadosa e sucinta com as palavras.
Daí, eu peguei O Banquete das Hienas, vi a capa simples, mas cheia de significado e pensei que ia encontrar outra Bia. Dito e Feito.
O Banquete não é um livro que pinga sangue. A bem da verdade, escorre, verte, dá até pra torcer. Dividido em duas partes, encontramos na primeira vários contos e na segunda, o Banquete em si, grandiosos (em contexto e conteúdo, mas não em tamanho) microcontos.
"Padre Décio me falou que temos de perdoar. Mas perdão deve vir de dentro e eu fiquei oco como minha mãe. Sem - amor no - peito. Não consigo. Acho que nem mesmo Ele conseguirá. Onipresente, conhece o homem e sabe que ele é ruim."
O que impera nos contos e microcontos? A realidade, nua, crua, sanguinolenta, dolorida. Realidade pura e simples. Como bem diz na sinopse e na orelha, são contos que poderíamos encontrar em qualquer jornal, site de notícias e difusão em redes sociais, se é que já não encontramos.
Também conforme conta na sinopse, os contos desse livro têm inspiração na escrita de Rubem Fonseca, um grande escritor brasileiro contemporâneo, cuja maior característica é a narrativa urbana carregada de realidade: com violência, sutileza, sexo, brutalidade, e até um pop. Foi consagrado como reinventor da literatura noir (Fonte: Wikipédia).
Os contos variam entre primeira e terceira pessoa, possuem estilos de narração diferenciados que combinam com as personalidades dos personagens narradores, incluindo seu linguajar e modo de pensar. Alguns possuem muitas frases curtas de impacto, tornando a leitura mais ligeira sem deixar de massacrar nossos conceitos.
O português da Bia é impecável. Desde o livro anterior que sei o quanto a leitura é agradável e limpa. Nesse não foi diferente. Nenhum, anotem bem aí, nenhum mesmo erro de português, de digitação, de pontuação. Nenhuma vírgula faltando ou fora do lugar, nenhuma letra trocada. Bia e a Giostri estão de parabéns.
Diagramação linda, bem feita. Capa simples, até demais, mas convenhamos que com um título desses, nem precisava encher de efeitos. Descrição #pracegover: com fundo totalmente branco, a capa é formada apenas pelas palavras do título em preto, com algumas exceções em vermelho (crimes, a barra do e/ou, e hienas). Além do vermelho pingando sangue, há manchas de sangue em algumas outras fontes.
Sobre os contos, vou deixar aqui um breve relato sobre dois dos meus preferidos, só para deixar vocês com água na boca. Só não falo sobre todos porque seria uma resenha extensa pra danar.
A filha da puta
Este conto foi premiado no Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio. Narrado em primeira pessoa, mostra os pontos de vista de uma jovem de classe baixa, cuja mãe troca o corpo pelo que precisa, seja lá o que for. A jovem se enxerga de modo diferente, ela não troca, nem vende. Na primeira oportunidade que conseguiu de sobreviver sozinha, saiu de casa. E passou a enfrentar a rua, engravidou. O final? Tão comum, tão dia a dia, tão normal que chega a doer. Dói no coração.
"Saio e veio aquela sensação áspera. Todo mundo me olhando. Eu sei que me encaram assim porque sou filha da puta. Aqui a gente pode ser pobre e até vender o corpo, mas trocar como faz a mãe, e tão baratinho assim, não pode. Isso é feio. É baixo."
Cordeiro de Deus
Este é um conto bem curto, de uma página só, mas o impacto valeu por meio livro. Falar dele é entregar o ouro todo. É escrito em primeira pessoa em sua maior parte (só a última frase é em terceira). A descrição detalhada vem misturada aos pensamentos e divagações do narrador. Vai te chocar, claro. Por ser tão comum, tão corriqueiro.
"Mas sou um escravo. De Deus. Não podemos nos amar assim. Nunca mais."
Não é um livro para qualquer um. Eu, que adoro o gênero, gosto de livros que me fazem pensar, rever conceitos, questionar minha honra, adorei! Enfim, livro mais que recomendado se você busca uma boa variação da literatura nacional. Quem curte contistas, precisa conhecer a escrita da Bia.
Vocês podem comprar o livro no site da editora ou direto com a autora.
Vocês podem comprar o livro no site da editora ou direto com a autora.
Sobre a AUTORA:
Bia Onofre nasceu na capital paulista em 1967. Professora de inglês desde 1985, Estudou em Nova Iorque onde ensinou imigrantes e refugiados de diversas nacionalidades, uma experiência que iria mudar sua vida para sempre. Redescobriu a literatura brasileira quando se mudou para o Rio de Janeiro em 2001 e encantou-se com a prosa brasileira contemporânea. Entre suas várias criações literárias, podemos citar "Restos de Nós", romance histórico que explora o universo feminino, vencedor do Concurso de Bolsas para Autores com Obra em Fase de Conclusão da Fundação Biblioteca Nacional, e também "A filha da puta", conto urbanista e brutal, premiado no Concurso Nacional de Contos "Newton Sampaio".
Parabéns, Bia! Seu novo livro é tão impactante quanto o primeiro! Espero que seu sucesso seja imenso! Merece!
Aos leitores, compartilhem! Vamos fazer a literatura nacional crescer!
Boa leitura! Até + ver!
Nuccia De Cicco é bióloga, Doutora em Bioquímica, escritora, poetisa, bailarina e blogueira. Carioca de paixão de Santa Teresa, é apaixonada por livros, seriados, tatuagens e lambidas caninas, além de ter uma queda saudável por cafajestes. Surda desde os 27 anos, é co-autora em treze antologias e publicou o livro “Pérolas da minha surdez”, uma obra sobre luta e força de vontade. Todas as suas facetas são mostradas no blog “As 1001 Nuccias”. Nele, a literatura impera!
Sou super fã da Bia Onofre.
ResponderExcluirAinda não tive a oportunidade de ler seu último livro, mas com certeza, já o recomendo!
Obrigada pela recomendação.
Sucesso e vida longa a essa grande escritora que merece aplausos (e claro, ser lida à exaustão!), um grande talento contemporâneo, inspiradora e realista.
Bia é uma amiga querida, é uma pessoa especial.
ResponderExcluirComo escritora, genial!
Sua escrita toca, fala ao coração.
Também colocaria seus livros nas cabeceiras dos meus colegas psicanalistas.