sexta-feira, 24 de julho de 2015

[Literatura em Movimento] - Preciso falar sobre... Tatuagens e Surdez?

Boa tarde, pessoas!

Mais um dia de blogagem coletiva começando e vamos com tudo!

Entretanto, apesar de toda essa minha alegria contagiante, o tema de hoje é um tantinho mais sério.

O projeto Literatura em Movimento, organizado pelos blogs CafĂ© com LivroDa Literatura e Sacudindo as Palavras, deu como tema de Julho "Preciso falar sobre..." > SAIBA MAIS


Intrigante, sim ou claro?

A ideia Ă© cada blog participante usar a postagem para desabafar, discorrer, elucidar um tema que precisa muito por pra fora.


Então, eu escolhi contar, divagar, jogar ao vento palavras sobre um dos temas que está no meu book "Pérolas da minha Surdez" e que pouco comentei aqui: surdos tatuados.

Se vocĂŞ nĂŁo clicou ali no tĂ­tulo do livro, ou clicou e nĂŁo entendeu, pode clicar neste OUTRO LINK AQUI, em que explico o que Ă© Literatura Surda e dou uns informes bacanas sobre o livro.

Bom... Por quê escolhi este tema? Veja bem, sempre que eu puder falarei um pouquinho de surdez aqui no blog, porque, pra quem não entendeu ainda, eu sou surda. E por quê tatuagens? Fácil, porque eu tenho algumas. Não, ok, eu tenho várias; 8 para ser exata (mas só até o presente momento, há mais na programação).

Mas isso não explica por quê eu juntei tattoos e surdez numa postagem. "É muita doideira!". Ahhhnnnnn... não! Não é, não. E eu explico.

Há uma passagem no livro de um caso que aconteceu comigo no meu 3Âş, quase 4Âş ano de surdez (já sou surda há 8 anos). 

Digo de passagem que era verĂŁozĂŁo no Rio de Janeiro, eu estava de camiseta. Eu tenho uma tatuagem gigantesca nas costas de uma FĂŞnix em chamas. Esta tatuagem eu fiz no meu primeiro ano de surdez, uns 7-8 meses depois de ficar surda e demorou 1 ano para ficar totalmente pronta. Eu estava aprendendo a fazer leitura labial, aprendendo a estar surda depois de mais de 25 anos como ouvinte. Estava entrando em um mundo novo, apĂłs meu antigo pegar fogo. A escolha da FĂŞnix nĂŁo foi aleatĂłria. A FĂŞnix foi a 4ÂŞ tattoo, mas no ano do 'caso' eu já tinha mais.

E o caso? Estava em um ponto de Ă´nibus e um rapaz veio falar comigo, sobre sabe-se lá a Deusa o quĂŞ. Eu, com toda a minha paciĂŞncia recĂ©m-adquirida, fui explicar que ele precisava falar mais devagar, pois eu era surda e precisava fazer a leitura labial. A reação foi bem...hum... inusitada (?):

- Surda?! Mas vocĂŞ tem uma tatuagem!

Na hora, eu fiquei meio sem reação por uns minutos, antes de responder que "Não, eu não tenho uma tatuagem, eu tenho sete!". Mas depois, já fora da faculdade, a caminho de casa, fiquei pensando naquilo.

Tudo bem, todas as pessoas se espantam com uma surda que fala bem, sem sotaque, sem afasia, e rápido. Até entendo. Também entendo a parte de ser super esquisito uma surda dançar e, com licença, danço bem.

Mas tatuagem? Piercing? Por quĂŞ o espanto?

Gente, vamos lá! Surdos não são aliens! Surdos não são plantas (e olha que muitas árvores são tatuadas na base dos chaveiros e canivetes, com desenhos que ela não puderam escolher!)!

Nós somos pessoasTemos o dever de votar como qualquer outro cidadão, e de pagar impostos. Temos o direito de ir e vir, de receber educação de qualidade, de podermos trabalhar e receber um salário digno. Mas, mais do que tudo, temos o direito de escolha.

Independente da 'deficiĂŞncia' que carregamos (seja de audição, de visĂŁo, de membros, mental, cromossomial, de alma), todos tĂŞm direito a escolher o que quiserem e puderem para sua prĂłpria vida. Eu escolhi minhas profissões e sou biĂłloga, cientista, bailarina, escritora. Eu escolhi minha religiĂŁo e sou bruxa. Eu escolhi minha aparĂŞncia e pintei meu cabelo de vermelho-piranha. Eu nĂŁo sou surda de nascença, mas isso nĂŁo faz diferença.

Na foto: Thaisy Payo, Miss Mundo, surda e tatuada.

Eu escolhi (nĂŁo uma, mas 8x) gravar na pele minhas convicções (sim, cada tatuagem minha tem motivo e significado, tanto pelo desenho quanto pelo momento de vida em que fiz). Escolhi botar brincos no lugar que me desse na telha. 

E nĂŁo sou a Ăşnica. Em um Ăşnico dia de visita a uma escola de surdos, tudo que eu vi foram adolescentes normais, que apenas nĂŁo escutavam: eles usavam a roupa da moda, bonĂ©s, pulseiras, cordões, celulares modernos, tatuagens e piercings (e se sĂŁo menores de idade, sĂŁo aprovados pelos pais). 

Santa tartaruga, Batman! SĂł para avacalhar mais com esses pensamentos mesquinhos, deixo aqui uma perguntinha: se surdos nĂŁo conseguem ter tatuagens, acha que eles podem ser tatuadores? EntĂŁo....

Em 2013, na Alemanha, aconteceu a primeira Convenção Internacional de Tatuadores Surdos, que foi apresentada em diversas línguas de sinais. Está aí achando que eu to de zuação? Então, acesse/veja:


Pois, entĂŁo... Respira, nĂŁo pira! 

Todos os tipos de surdos tambĂ©m tĂŞm o mesmo direito que vocĂŞ de escolher o que quiserem para suas vidas. 

#borarabiscarapele! =P

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Aproveita e vĂŞ o que os demais blogs participantes escreveram este mĂŞs:


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E entĂŁo? Deu para pensar bem? Deu, principalmente, para abrir a mente?

EntĂŁo, deu tudo certo!

Espero que tenham gostado e que eu nĂŁo tenha sido muito chata.

Aguardem a prĂłxima blogagem coletiva!

AtĂ© + ver!




6 comentários:

  1. Bem interessante Nuccia, quando o cara falou "surda? Mas vc tem tatuagem" eu wuase pulei da cadeira...... que tipo de pergunta tosca Ă© essa.... bem legal. Otimo desenvolvimento. Ps:Amei o "Respira, nĂŁo pira"
    Amantes de Jane Austen

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    1. Oi, Angel!
      Na hora que a criatura me mandou essa, eu fiquei me perguntando o que raios uma coisa tem com a outra... Porque não vejo relação! Mas, ao longo dos anos, eu vejo que não são poucos os que pensam assim. Muita gente mesmo acha que por ser surda, eu não conseguiria quase nada. Sim, surdez tem seus entraves, mas não é uma limitação tão severa... enfim...
      Obrigada pela visita e pelo comentário!
      Volte sempre!
      bj-Ka!

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  2. Oi, muito interessante seu texto, o comentário sobre vc ser surda e ter tatuagem foi por puro preconceito, não dá pra entender como existem pessoas que pensam assim, hoje em dia existem trabalhos lindos de tatuagem, e cada um se expressa da forma que se sente bem, como dizem por ai, é muito facil julgar um livro pela capa, mas ler, ninguem quer... bjos

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    1. Oi, MĂ´nica!
      Não sei bem se foi preconceito ou muita ignorância, no sentido de não conhecer mesmo. A impressão que tenho é que muitas pessoas acham que um deficiente, seja de que tipo for, nunca vai conseguir nada, ou se decidir por algo legal, ou ter uma profissão, ou sei lá. A pergunta sobre tatuagem foi uma em mil! Todo dia tenho de responder perguntas loucas sobre ser surda de pessoas que ouvem e perguntas loucas sobre português e como eu ouvia de surdos. Sim, há curiosidade, mas tem algumas coisas que passam do limite...
      Resta ter muita paciĂŞncia... Muita mesmo!
      Obrigada por vir e comentar! Volte sempre!
      bj-Ka!

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  3. Gente, que loucura! Não sei de onde algumas pessoas tiram a ligação de uma coisa com a outra...O que raios teria de oposição o fato de você não ouvir e ter tatuagens?
    Eu adoraria ter um piercing no umbigo e alguma tatuagem, mas sou meio volúvel e sei que me cansaria mais dia, menos dia, e daí não daria pra mudar ou apagar, né? Melhor não mexer nisso! Rs.
    Adorei a tatuagem de fĂŞnix!
    Beijos.
    www.historiamuda.com.br

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    Respostas
    1. Oi Amanda!
      Eu também fico me perguntando qual a relação, mas sei lá! Tem gente que acha que surdo não faz nada da vida. É pura ignorância, em especial com tantas fontes de conhecimento disponíveis.
      Quanto a você colocar... bem, piercing é como um brinco, se você não usar sempre, o buraco fecha e não poderá usar mais. Agora, tattoo é realmente algo mais permanente... Há a opção do cover up (fazer um desenho sobre o outro), mas nem sempre é viável. Faça apenas se tiver plena certeza!
      Obrigada pelo comentário!
      bj-Ka!

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