quinta-feira, 12 de maio de 2016

Resenha [livro] - Beco da Ilusão

Bom dia, nucciamigos!

Mais um dia bombástico desse mês de maio e como vamos aproveitá-lo?? Exatamente: resenha de livro nacionalNada como um desafio literário pra fazer a gente ler mais Brasil!

Well done... A resenha de hoje é para os dois desafios que participo (vocês poderão conferir lá no final da postagem) e está meio atrasadinha, mas desafio aceito é desafio cumprido! 

Vamos falar sobre um livro nacional que foi muito bem recomendado por vários blogs, alguns autores e que eu me interessei desde o primeiro momento em que "ouvi" falar dele: Beco da Ilusão, foi escrito pela autora Mallarey Cálgara e sua história, apesar de ser um romance fictício, é totalmente baseada em fatos históricos mais do que comprovados. 

Beco da Ilusão
Gênero: Drama
Editora: Independente
Ano:2015

*Livro do acervo pessoal do/a blogueiro/a*

Sinopse:
Meu nome é Sarah Wainness, mas este nem sempre foi o meu nome. É apenas mais um, entre tantos que já tive. Minha infância foi feliz e simples, como de qualquer criança da minha idade e do meu bairro em Karnobat, Bulgária. Éramos uma família de cinco irmãos, incluindo eu. Papai, um homem muito bom, enérgico e religioso, frequentava a sinagoga, enquanto mamãe trabalhava em casa, cuidando de tudo e de todos nós. Após recebermos uma herança de um tio falecido que morava em Berlim, mudamos para lá e, ao chegar, deparei-me com uma realidade totalmente diferente da que eu conhecia. Passei a ter vários sonhos, após meu primeiro contato com a cidade. Um deles, tive que manter em segredo, que era ser bailarina. Sempre pegava as roupas da mamãe escondida e ficava rodopiando no fundo do quintal, vendo tudo ao meu redor mudar e, assim, mantinha-me feliz, até o dia que uma visão que tive desmoronou meus sonhos e mudou completamente a minha vida; os nazistas invadiram nossa casa e fui levada para um lugar de prostituição. Meu nome é Sarah Wainness, e já morei no Beco da Ilusão.



Eu sou terrivelmente apaixonada por livros com conteúdo histórico, sejam ficcionais ou não. Não que eu não goste de fantasia e distopia, pelo contrário, adoro esses mundos novos. Mas também acho importante me inteirar sobre o nosso mundo. Especialmente a história dele, pois conhecimento prévio é ensinamento, uma forma de não repetirmos erros sociais.


Beco da Ilusão é um romance dramático. Narrado quase totalmente pela protagonista Sarah Wainness, inicia-se com ela se preparando para assistir à apresentação de ballet de sua neta, já adulta. Enquanto aguarda o início do espetáculo, sua mente começa a vaguear por lembranças de seu passado. Um passado obscuro e tenebroso.

Sarah Wainness nasceu Yidish. Ao receberem uma herança de um tio distante, Yidish e sua família (pai, mãe, 3 irmãos, a mais velha fica na terra natal, pois se casou) se mudam da Bulgária para Berlim. Seu pai, sapateiro, assume então a administração de uma gráfica no coração da nova cidade. Aos 9 anos, ela conhece Berlim no auge de sua beleza, se apaixona pelo Opernplatz, o prédio da Ópera Estatal de Berlim e pelo ballet, uma dança leve, graciosa, linda e genuína.

"Dentro desse refúgio particular, rodopiava, vendo as coisas passarem. O silêncio imperava em minha mente, fazendo-me viajar para uma vida diferente, se sonhos realizados, onde eu e o balé éramos um só."

Após alguns dias, conheceu Anton e Erdman, dois primos cujos laços de amizade com a menina se tornaram profundos e inabaláveis, de tal forma que eles se ajudavam e protegiam em tudo. Sapeca, espontânea e sonhadora, Yidish escuta novidades do governo em seu radinho e escondida nos corredores da casa, durante longas reuniões do pai com os amigos da gráfica. Ela não compreende ao certo o que ouve, mas sabe que algo está para acontecer.

"O Senhor Vogel frequentou a nossa casa por mais de dois meses até que um dia disse que não voltaria mais. Falou que não era certo receber dinheiro de judeu, que preferia ficar desempregado e passar fome a ter que se humilhar."

E então, em uma manhã tenebrosa, depois de incêndios na capital, Hitler declara guerra contra os judeus residentes na Alemanha. Nazistas invadem as casas, separam famílias e jogam todos em ônibus para levar a campos de concentração. Separada de sua família, a agora adolescente de 14 anos tem de enfrentar sozinha tudo o que está destinado a ela, por causa da cultura que possui.

"Ouvimos barulhos terríveis de picaretas demolindo portas, quebrando vidros, seguido por toda uma gritaria. Ali, naquele momento, soube o que é o medo de morrer."

Devido a um segredo revelado, Yidish recebe um tipo de proteção: uma identidade alemã. No início dessas viagens, ela não sabe exatamente quem a protege e sabe menos ainda a causa disso. A cada transferência de campo, um novo nome, uma nova identidade, mas os mesmos martírios. No caos do Holocausto, ninguém era poupado se não fosse alemão: negros, judeus, homossexuais, deficientes. Os nazistas sentiam prazer em ferir, humilhar, machucar e matar outras pessoas.

Tudo o que ela desejava era encontrar sua família, seus irmãos, seus amigos, seu amor. E sumir da Alemanha.

Analisemos os personagens. No livro, vemos nossa protagonista ser uma criança, uma jovem, uma mulher, uma senhora. Ela é forte, lutadora, e inocente, mesmo após tantas atrocidades. Nunca deixou de procurar a família e seu amor, mesmo sabendo que seria praticamente impossível encontrá-los vivos. Aprendeu a sobreviver o máximo que pôde e a acreditar na esperança, mesmo quando não havia luz alguma no túnel.

Desde a primeira página, sabemos que a vida de Sarah é complexa e que sua história será regada de grandes personagens. Assim, todos os personagens secundários são tão importantes quanto ela. Participam amplamente da história, mesmo não aparecendo nela o tempo inteiro, afinal, nossa protagonista se perde e se vê sozinha por uma boa parte da narrativa. Mas cada vez que um novo personagem surge ou um antigo reaparece, não é sem motivo, sem ligação. Anton e Erdman são os melhores amigos que uma menina judia perdida nesse caos poderia ter.

Sobre a parte técnica, devo avisar que é tudo lindo, tudo maravilhoso, caprichado e.... feito pela autora! Comecemos com a capa: como uma fotografia em preto e branco, temos em primeiro plano a imagem de uma estrada de ferro em uma cidade de interior. Ao longe, árvores, uma estação velha e muita neblina ou fumaça, dando um tom bem sombrio. Em segundo plano, no canto superior direito, a modelo representando nossa protagonista. Curiosidade: a modelo da foto é a filha da autora! O título do livro e o nome da autora estão na metade inferior da capa, em vermelho e branco, um destaque perfeito.

A diagramação interna é um espetáculo! Antes de cada capítulo, há uma página negra com uma citação de Hitler e uma imagem representativa do conteúdo e do evento. Isso é colocado como se fosse algo emoldurado e a moldura em si é feita de arabescos na cor branca. Logo a seguir, o início do capítulo nos é apresentado com seu título e numeração. 

Muitos diálogos são escritos em alemão original, com a tradução logo a seguir, pelo próprio personagem ou em parenteses. Além disso, há uma lista de notas ao final do livro, que explica nomes, expressões, datas e locais citados na narrativa, por ordem de aparecimento (numerados). A revisão também foi muito bem feita, sei que encontrei alguns errinhos, mas não faço ideia de quais, de tão envolvida que estive na história.

E qual a minha opinião

Cara... eu vou ter de ser sucinta, ou passarei éons elogiando esse livro. Foi surpreendente, arrebatador, chocante e lindo, tudo junto e misturado.

Começando pela base, pela pesquisa, pela veracidade dos fatos. A autora nos transporta ao tempo e espaço dos acontecimentos de tal forma que parece que ela própria esteve lá. Junte a isso, o fato de a narrativa ser rica em detalhes e observações que faz com que você viva e sinta o mesmo que os personagens. Você se emociona, rodopia, sofre, se choca, luta, chora e transcende.

"Por um momento de lucidez, senti um calor percorrer o corpo ao me dar conta de que ele era um garoto, mesmo sendo o Erdmann, e que segurava minha mão. (...) Senti a primavera despertando em todo meu corpo e alma. Este seria um momento que ficaria guardado em minha memória até a hora da morte."
Logo no início, a autora tece considerações sobre a pesquisa que fez. Diz que buscou descrever o mais realista possível, mesmo não concordando com o que estava escrito. É seu papel como autora repassar os fatos históricos registrados sem modificá-los, mas não é seu papel concordar com eles.

Mesmo um detalhezinho ínfimo no início do livro nos faz entender as reviravoltas dos últimos capítulos. E não são poucas reviravoltas, não! Os sentimentos gerados pela leitura mudam em turbilhões e nos modificam também.

Não há como não torcer pelas conquistas da pequena e forte Yidish, não há como não ter esperança que ela encontre sua família. Ou como não desejar que encontra e viva o amor que tanto sente falta, tanto pelo amigo, quanto pela dança. Enquanto está nas garras dos campos de concentração, ela sente frio, fome, dor, corre riscos, trabalha e, mesmo assim, consegue ser solidária.

O que mais posso dizer sem entregar a história toda de bandeja?... Bem, o título do livro é explicado em uma parte da narrativa, mas eu não posso descrever, pois seria estragar a leitura de vocês. Só uma dica: a ilusão nem sempre é boa, mas é útil e ajuda a sobreviver.

O final do livro foi espetacular! Não que tenha sido inesperado. Parando para pensar, até que foi um final bem condizente, mas a forma como foi passado tem todo o diferencial.

É impossível pra você não se chocar, não sentir um aperto no peito, a angústia com os relatos. A dor e a humilhação impostas a seres humanos que não fizeram efetivamente nada direto contra o governo alemão. Nada, a não ser existirem. A empatia desperta a cada página e faz as emoções aflorarem a cada parágrafo. A não ser que você seja um psicopata, daí... 

No mais, é um livro fantástico, que vale a pena ser lido. Sei que ele foi publicado em alemão e está na Biblioteca de Berlim e é recomendado como fonte de pesquisa, tamanha a sua fidelidade. Mais do que uma história de ficção, é um ensinamento, uma luz para que não retornemos àquela escuridão.



O livro na rede:


   



Sobre a autora:

Nasci no interior de Minas Gerais, Carmo do Cajuru, sob o signo de Aquário. Aos quatro anos, mudei-me para Belo Horizonte, onde moro até hoje. Sou leitora voraz desde os cinco anos quando aprendi a ler com uma de minhas irmãs. Por volta dos meus nove anos, meu livro de paixão era O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry, que considero ter marcado minha vida. Cursei a faculdade de psicologia e acrescentei em minha lista escritores consagrados como Dante, Sartre, Freud, dentre outros.Trabalhei na aviação alguns anos como comissária de bordo. Participo de projetos ligados a proteção de animais e mantenho em minha residência um abrigo para cães e gatos com minha filha. Sou possuidora de grande imaginação e fui incentivada por minha família a colocar no papel minhas ideias, de onde nasceram as obras de ficção Beco da Ilusão, O Segredo da Caveira de Cristal e Anjo Negro, sendo este último minha primeira publicação.

CONTATOS:
 

  


Esse livro faz parte do Desafio Literário 60 Livros em 1 ano, organizado pelo Blog Livros & Tal, como minha leitura #15de60.

Esse livro também faz parte do Desafio Literário Skoob 2016, como leitura de ABRIL: Livro sobre HOLOCAUSTO.



Essa não é só uma leitura recomendada: é ultra recomendada. Um dos melhores livro que li, com certeza o melhor que li este ano.

Parabéns, Mallerey, sua obra merece ser divulgada, lida, relida e tudo o mais!

Gostaram? Curta, comente, compartilhe! Ajude a divulgar a literatura do nosso país!

Boa leitura!

Até + ver!





18 comentários:

  1. Oi, não conhecia o livro, mas a sinopse me pegou de jeito, pois é um livro historico que é rertratado na epoca da segunda guerra mundial, e eu adoro ler livros que se passam nessa epoca. Amei a resenha e a cada momento ficava mais chocada e emocionada com sua resenha, pois ela me empolgou e fiquei louca para ler o livro agora, pois fico imaginando como se desenrola a historia e o que cada personagem sente e como Sarah termina o livro.
    bjus

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  2. Oi, tudo bem? não conhecia essa obra, mas confesso que quero muito gora, pois sinto que vou gostar muito! Amo livros desse gênero e sem a menor dúvida vou comprar esse.

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  3. Olá,

    Há um tempo eu também venho vendo algumas resenhas sobre esse livro e fiquei muito intrigada agora, a história realmente ser boa e impactante. E gostei do pano de fundo ser a segunda guerra, pois simplesmente tenho desenvolvido um certo fascínio por livros que narram justamente essa época. A capa e a diagramação também estão igualmente lindas e desejo muito sucesso a autora. Sua resenha ficou maravilhosa, sério, me esclareceu muitas coisas. Espero poder em breve conferir essa linda obra.

    Abraços
    colecoes-literarias.blogspot.com.br

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  4. Oi, Nu
    O livro é todo bem escrito e foi difícil parar para comer e dormir. rsrs. Mas o final foi sensacional, a autora conseguiu surpreender ainda mais. Virei fã e aguardo ansiosa suas próximas obras.
    Não posso deixar de falar da diagramação do livro, que ficou linda, muito bem feita.
    Beijos

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  5. Oi, Nuccia!

    Uma amiga minha já leu esse livro e me falou super bem dele, então eu já sentia vontade de lê-lo antes de ler a sua resenha, mas essa vontade reacendeu de uma forma incrível agora! Preciso ler. Adoro livros ambientados em guerra e a história em si chama a minha atenção.
    Beijos

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  6. Oi Nu, tudo bem??
    Sua resenha ficou ótima e bem inspiradora, com a exceção de que o livro fala-se do holocausto e da Alemanha... detesto este país.... não curto nada que é escrito sobre ele... já assisti filmes, mas mesmo assim é algo que não curto ler... não pegaria nenhum livro para ler que tivesse a Alemanha mesmo que fosse de pano de fundo.... de qualquer forma o importante foi que você gostou e o que a história trouxe para você... Xero!

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  7. Olá,
    Eu não gosto muito de livros que passam durante a guerra, porque simplesmente aconteceu e não gosto muito de ler sobre fatos, prefiro a ficção, sei que tem uma parte neste livro, mas no momento não é pra mim.

    http://euinsisto.com.br

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  8. oi ^^
    confesso que eu não gosto muito de livros nessa premissa e não fiquei muito interessada no livro, mas de qualquer forma que bom que gostou da leitura.
    deixo a dica passar, quem sabe um dia eu dê uma olhada. Seguindo o Coelho Branco

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  9. Nuccia, adorei sua resenha! Que livro lindo! Eu particularmente adoro histórias que tem como cenário a II Guerra Mundial. Sempre têm tanta coisa à dizer e a ensinar, além de emocionar, é claro. Entrou m=pra minha wishlist!
    Abraço;

    http://estantelivrainos.blogspot.com.br

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  10. A capa de Beco das ilusões é bem bonita. Mas é o enredo que conquista mesmo, em tempos de veneração a neonazistas, esse tipo de leitura é essencial

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  11. Olá!
    Muito interessante o enredo do livro, amo quando chego em um blog e vejo resenhas sobre autores nacionais, isso valoriza nossa escrita/cultura!
    Abraços,

    www.entrelinhaseafins.blogspot.com.br

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  12. MEU DEUS! Que sinopse! Que enredo, adorei. Vou ler com certeza. Gosto de livros que se passam na época nazista.
    www.belapsicose.com

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  13. Oie
    não conhecia o livro mas gosto bastante de drama, parece ser uma leitura muito legal e vou anotar a dica, parabéns pela resenha

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  14. Gostei bastante da sua resenha e me interessei verdadeiramente pelo livro, amo aprender história com livros, a experiencia fica mais divertida, nesse caso em específico angustiante, mas de certo mais proveitoso do que abrir um livro didático, a literatura é linda <3

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  15. Sua resenha ficou ótima e bem inspiradora. É terrível saber que todo esse sofrimento realmente fez parte da vida de muitas pessoas.

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  16. Queridos leitores!
    Muito obrigada por te-los aqui novamente!! Repito veementemente, a obra é muito linda, muito bem escrita e tem uma grande carga emocional nela. Vale muito a pena!!!
    Obrigada novamente pela presença e pelos lindos comentários!!! beijos!!!

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  17. Olá. Que resenha inspiradora! E que orgulho desse grande talento ser aqui do meu estado, MG!!! Parabéns à autora. Amo histórias como essa, com dramas familiares e com a guerra como pano de fundo. Realmente é triste ver como a humanidade se perdeu totalmente nessa época, mas como você bem disse, é muito importante ler esses relatos para que jamais retornemos ao que se passou.
    Parabéns pela resenha!
    Valeu a dica.
    Beijos.
    Karla Samira
    www.pacoteliterario.blogspot.com.br

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  18. a premissa do livro é muito boa, é interessante trazer esse drama numa época tão obscura da humanidade;

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Seja legal: aumente nosso ego deixando seu comentário!
Mas, ei! Cuidado aí! Sem comentários ofensivos!
Um imenso obrigado de todos nós!

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