quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Resenha [livro] - A casa das belas adormecidas

Olá, pessoas!

Saindo da literatura nacional um pouquinho, hoje a resenha é de uma obra... hum... diferente

Apesar de estar acostumada com literatura estrangeira, lemos mais obras de autores europeus e/ou norte-americanos. E por europeu, focamos na Inglaterra. São poucos os autores conhecidos oriundos da Espanha, França, Itália, Rússia, Grécia, e outros.

E da Ásia Oriental? Quantos autores você conhece e já leu? Este foi o tema do mês de FEVEREIRO do Desafio Literário Skoob 2016: livro de um autor asiático! E o livro escolhido foi A Casa das Belas Adormecidas, do japonês Yasunari Kawabata.

E, como eu não sou boba, acumulei! A resenha do livro de hoje faz parte de outro desafio também: o Desafio Literário 60 Livros em 1 ano, do Blog Livros & Tal, como minha leitura #8de60!

Vamos à resenha? 

A casa das belas adormecidas
Autor: Yasunari Kawabata
Editora: várias (ePubr)
Ano: 1961

*Livro do acervo pessoal do/a blogueiro/a*

Sinopse:
Imbuída de um erotismo inusitado, esta obra, escrita em 1961, demonstra a maturidade estilística do autor, que se utiliza sua virtuose descritiva para contar a história de Eguchi, um senhor de 67 anos que freqüenta a 'casa das belas adormecidas', uma espécie de bordel onde moças encontram-se em sono profundo, sob efeito de narcóticos. Apesar da idade avançada, o protagonista parte em busca dos prazeres perdidos e se depara com moças virgens, que os visitantes podem tocar, mas são proibidos de corromper. Daí derivam passagens antológicas de rememorações pessoais e fantasia. Kawabata procura desvendar o enigmático universo do corpo feminino em um culto ao belo e ao inalcançável, investigando as dores da solidão a partir da sutileza de um erotismo expressivo, constantemente atravessado por passagens de fina ironia e perturbadora consciência da passagem do tempo, do vazio existencial que permeia as relações humanas.


Um livro bem enigmático, com muitas memórias e situações estranhas. Venham para o mundo de Eguchi, um senhor de 67 anos, casado, com 3 filhas adultas, avô e um fetiche estranho: passar a noite na companhia de jovens virgens adormecidas.



Sobre a história: A história se inicia com a primeira noite de Eguchi na casa onde é possível passar a noite ao lado de mulheres jovens. O diferencial é que as jovens passam a noite inteira adormecidas, por uso de um remédio/droga. Elas estão sempre em estado profundo de sono, nunca sabem com quem passaram a noite. As únicas regras da casa são não matar nem abusar das jovens.


Indicado a ir até lá por um amigo, Eguchi descobre na primeira noite que sua jovem companhia é virgem, de beleza pura e intocada e se pergunta se este também é um diferencial da casa, coisa que confirma com as visitas posteriores. Apesar de prometer a si mesmo não retornar, pois ainda não está tão velho e decrépito a este ponto, suas visitas se tornam cada vez menos espaçadas.

A cada noite, Eguchi tem uma nova garota em sua companhia e um turbilhão de lembranças da sua juventude que cada uma lhe desperta, seja por uma característica peculiar do corpo, da tez, seja apenas pela respiração morna dela em seu pescoço. A cada lembrança um jorro de emoções: tristeza, saudade, excitação, irritação, raiva e, até mesmo, um instinto homicida.

Os personagens são construídos de forma peculiar. Apenas Eguchi e seu amigo são identificados pelo nome. Eguchi é um idoso, com 67 anos, que não se considera um velho decrépito que deixou de ser homem, a ponto de necessitar de pagar por jovens ao seu lado. Por causa da sua idade, acha que conheceu noites deploráveis o suficiente, não por causa da falta de beleza das mulheres, mas sim por suas histórias trágicas. No entanto, lá está ele, tendo memórias vindo a tona o tempo inteiro ao lado de jovens adormecidas profundamente, dormindo ao lado delas somente após tomar 2 comprimidos.

Os demais personagens, apesar de não identificados por um nome especificamente, tem sua personalidade, caráter e características físicas muito bem descritos. Uma atenção toda especial é dada às jovens adormecidas. A descrição é minuciosa, atenta aos detalhes do corpo da mulher, sempre enaltecendo as belezas do corpo e do que ele consegue captar da alma da garota.

E a parte técnica? Este livro é considerado um clássico japonês e suas edições são raras aqui no Brasil. No entanto, ele está disponível em algumas bibliotecas de forma pública. A edição digital que li foi disponibilizada pela ePUBr (Biblioteca Digital Brasileira).

Na capa está, sob a forma de uma reprodução ou pintura japonesa, feita à mão, de uma jovem, mais provavelmente a mulher que atende Eguchi todas as noites, aquela que cuida da casa. A mulher está vestida com uma roupa que parece um quimono listrado (as roupas japonesas tem nomes específicos e formatos diferentes, não se qual delas está seria), com detalhes dourados de bordados na barra avermelhada. Está semi-deitada, ao seu lado há uma chaleira. Seu rosto e cabelos estão arrumados como as Gueixas japonesas (apesar de não ser uma Gueixa). Nome do livro e do autor bem destacados na porção superior da capa.

A diagramação interna é extremamente simples. Os capítulos se iniciam por números, não há letras diferenciais. As margens não estão justificadas (tabulado à direita) e a fonte é um pouco pequena, mas dá para ler razoavelmente bem.

Minha opinião final: O livro é quase uma prosa poética. As descrições são incríveis, carregadas de sensibilidade e emoções turbulentas. É quase impossível ler e não se emocionar. Ao mesmo tempo, é um pouco chocante (ou pelo menos o foi pra mim) ver até onde nos leva a necessidade financeira: deixar-se passar a noite totalmente adormecida ao lado de um desconhecido supondo que ele não vá fazer nada em seu corpo sem sua aprovação. Depender da hombridade, da honra de um homem pode funcionar lá no Japão. Aqui, tsc tsc tsc...



CURIOSIDADE:

Esta obra serviu de inspiração a Gabriel García Márquez para o seu "Memória de Minhas Putas Tristes", publicado em 2004, bem como para a peça de 1983 "The House of Sleeping Beauties", escrita por David Henry Hwang.






Sobre o autor:

Yasunari Kawabata foi um escritor japonês, o primeiro de seu país a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1968. Apaixonado pela literatura desde a adolescência, estudou na Universidade Imperial de Tóquio. Um dos fundadores da revista Bunjel Jidai, seu estilo sutil, conhecido pela suavidade abstrata, onde predomina a subjetividade. Suicidou-se em 1972. Seu livro 'O país das neves' é uma das mais importantes obras da literatura japonesa, sendo considerado um marco da literatura intimista.


Espero que todos os participantes do desafio tenham gostado das suas leituras, e que elas tenham sido aprazíveis, como foi esta foi para mim.

Posso afirmar que nunca havia lido nada parecido e que me inspirou a me aventurar novamente no mundo dos autores asiáticos.


Pérolas da minha surdezaprendendo a ser surda depois dos 30!

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O lançamento? Marcado:
19/março - Rio de Janeiro/RJ



E vocês? O que acharam desse livro?

Boa leitura!

Até + ver!

25 comentários:

  1. Esse livro é muito bom! Gosto muito do estilo poético do Kawabata, em geral não é o tipo de coisa que me agrada, mas no caso dele, funciona.

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    1. Pois é, comecei achando que ia me enjoar, mas após algumas páginas me cativou! Foi uma ótima leitura!!!
      bjs!!

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  2. Comecei a ler esse livro no ano passado, mas confesso que não senti muita vontade de continuar a leitura... Sua resenha fez com que minha curiosidade retornasse!! Lerei o mais breve possível!

    Leitora Compulsiva
    http://olhoscastanhostambemtemoseufascinio.blogspot.com.br/

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    1. Tenta,sim!
      Mas se mesmo assim não der jeito,não force... É um tema difícil, melhor não forçar assim você pode ler outras obras dele que talvez te agradem mais.
      bjin!

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  3. Os brasileiros estão começando agora a descobrir a Literatura Oriental, o gênero é tão difundido que até tem nome próprio: Dorama,seja ela J-Drama (drama japonês), K-Drama (drama coreano), TW-Drama (drama taiwanês), C-Drama (drama chinês).

    O Livro parece fascinante, tanto pela riqueza técnica (já que as descrições beiram à prosa poética), quanto pela originalidade (um "bordel" onde as acompanhantes estão sedadas, quanta discussão isso pode gerar) e pela ousadia de fazer um protagonista de uma obra sobre sensualidade um senhor de 67 anos. Indicação maravilhosa, perfeita.

    Abraços e parabéns pela resenha.

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    1. Mas, gente! obrigada pelo comentário tão bem construído! Como foi meu primeiro contato com este gênero (que nem sabia que existisse), posso afirmar que foi envolvente e traz um certo abalo. E sim, é um gerador de discussão mesmo, seja pela jovens adormecidas, seja pelo protagonista idoso. E observe que foi escrito já tem tempos, imagina se fosse nos dias atuais...? XD
      Muito obrigada, Alê (eu sou intimista... rs) bjs!

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    2. De nada, o comentário foi bem escrito porque o texto é bom. XD E tudo bem pelo Alê, rs.

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  4. Realmente nunca li nada da literatura asiática e nunca tinha parado pra pensar sobre isso... rsrs
    A história desse livro para ser bem envolvente, achei meio intrigante essa questão das moças passarem a noite adormecidas, tenho a impressão que iria ficar agoniada com essa questão o livro inteiro.

    Parabéns, adorei seu post.
    Beijos

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    1. É muito raro lermos algo do extremo oriente, não é? Fico agora imaginando livros de outros autores de outros países de lá!... Vou até procurar!!

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  5. Olá Nu,
    Que história mais diferente, nunca tinha lido nada igual. Muito estranho esse gosto heim? E doida a jovem que aceita passar a noite dormindo e sem saber o que aconteceu de verdade. Muita coragem e doidice rs
    Não foi chocante só para você, eu também fiquei e só lendo a resenha.
    Você como sempre arrasa nas resenhas.
    beijos

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    1. Não é!? Sei lá se é um costume comum, ou se é coisa relativamente normal por lá! Eles tem honra (existe honra nesse meio??)... mas aqui,c ara... nem ousaria!!!....

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  6. Oi, Nu!

    Mulher, que doideira! hahaha Nunca li nada parecido com esse livro. Ele é intrigante e estranho na mesma proporção. Se foi chocante para você que leu, imagina para mim que só fiquei na resenha, pelo menos por enquanto. Como sempre, você arrasou!

    Beijos!

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    1. Tem de louco um pouco em cada pessoa, mas esse povo abusou! rsrs... Você que arrasa nas suas resenhas!... Eu só arranho! ;)

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  7. Olá!
    Acho que ainda não li nada de um autor asiático, mas isso não quer dizer que não tenha vontade.
    O livro me pareceu bastante intrigante e legal e, por ser um clássico, fiquei bem curiosa em ler. A única coisa que me desanimou um pouco foi o fato de ser quase uma prosa poética, mas acho que vale a pena arriscar a leitura.
    Adorei tua resenha e espero que você cumpra todos os desafios.
    Beijos

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    1. O modo como o autor tende a descrever a beleza dos corpos femininos e as suas próprias lembranças beira a prosa poética sim, mas ainda assim é uma narrativa de tempo corrido. Acho que você consegue acompanhar bem! Tente!

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  8. Oiii Nu, olha eu aqui otravezzzz!!
    Caramba adorei sua escolha, o livro parece ser do tipo que você fica... Que doidera.... Que doidera... Mas acaba gostando por ser tão diferente e como você mesmo disse foi meio poético, depois que li Murakami também pro desafio, vi que o normal da literatura oriental é não ser normal kkkk
    E pior que no Japão eles tem mesmo umas manias doidas, mas talvez doidos pra eles seja mesmo nós aqui no ocidente.
    Parabéns pela resenha, fiquei muito curiosa em ler o livro.
    Beijocas!!!

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    1. Pois é! A gente fica achando que eles são doidos, mas aqui tb... vou te contar! A gente faz umas besteiras de lascar!!!...
      Acho que a cultura oriental é muito diferente e como não temos muito contato, sempre vamos achar coisa de loucos... Sei lá!

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  9. Oi Nú, adorei sua resenha. Não conhecia a obra, pois confesso que estou acomodada com lançamentos mais populares das grandes editoras. Achei a temática bem interessante, nunca li nada parecido e já anotei a dica!

    Super beijo

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    1. A gente se prende muito com tem várias parcerias né? Só mesmo estes desafios pra me fazerem ler livros fora do cotidiano!... XD

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  10. Oiee ^^
    Eu nunca li livros de autores orientais (eu acho *-*), mas tenho muita curiosidade de explorar novas culturas, principalmente as que são bem diferentes da nossa, sabe? Parece ser um livro interessante, fiquei curiosa para lê-lo, e espero gostar também :)

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    1. às vezes, é uma benção sair da nossa zona de conforto... E previnimos o Alzheimer!!! XD

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  11. Esse é aquele tipo de livro que eu não leria se o tivesse disponível. Eu gosto de pensar que não julgaria livros pela capa, mas vira e mexe eu me pego fazendo isso rs. No caso desse foi exatamente a capa que abalou o meu interesse. Mas a sua resenha mudou tudo rsrs. O fato delas estarem adormecidas com homens completamente desconhecidos mexeu com o meu emocional, e eu nem li o livro rsrs.
    Fico pensando,té que ponto a humanidade chegaria para garantir o pão de cada dia? Sera que somos todos escravos da necessidade?
    To pensando, to pensado rsrs.
    Vou adicionar o livro aos meus desejados e deixa-lo numa posição priveligiada, quero lê-lo o mais rápido possível.

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    1. Exatamente, Jenny! Será que vender-se assim, nesse ponto, é mesmo necessário? O que será que elas estão passando pra aceitar esse tipo de coisa?... E o pior pensamento é: isso realmente é uma ficção? Porque, afinal, toda ficção tem sua inspiração na realidade... então.....
      Tomara que você consiga ler! Depois me passa o que achou!

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  12. Olá... tudo bem??
    Caramba! Estou boba com esse enredo, apesar de não ter a pretensão de ler, achei incrível a forma de escrita e o que foi abordado... fico imaginando essas jovens... seus medos e angústias... por precisarem tanto de dinheiro a ponto de ficarem adormecidas e confiarem sei lá como e com que coragem de que esses homens não irão abusar delas... como entendi seu comentário final... aqui no Brasil isso jamais iria funcionar... Xero!

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    1. Não é, Di? É uma coisa de louco! Mas a cultura é toda diferente, honra lá é levada muito a sério!... Apesar de ser uma ficção, quanto disso não seria real?... Se a intenção do autor era nos fazer pensar além da beleza, conseguiu!

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