OlĂ¡, queridos!
Sei que tenho andado muito afastada daqui e tenho bons motivos para isso.
Mas o que importa mesmo Ă© que as leituras continuam e que tambĂ©m continuarei a trazer resenhas a vocĂªs.
E por falar em resenha... que tal conhecer um livro nacional que traz um apanhado histĂ³rico na SĂ£o Paulo de 1922, traz uma visĂ£o da mesma SĂ£o Paulo mas em 2022 e ainda por cima nos apresenta conceitos matemĂ¡ticos e cientĂficos misturados no texto de forma elaborada e bacana?
Vem conhecer Avenida Paulista 22, o novo livro do autor Anderson Borges Costa, lançado pela Editora Giostri esse ano!
Sobre o LIVRO:
Avenida Paulista, 22
Autor: Anderson Borges Costa
Editora: Giostri
GĂªnero: romance, ficĂ§Ă£o
Ano: 2019
180 p.
Sinopse:
"Avenida Paulista, 22" Ă© um romance de ficĂ§Ă£o que dialoga de perto com a HistĂ³ria do Brasil. Narra a trajetĂ³ria de Osvaldo, um adolescente que entende muito de matemĂ¡tica e de fĂsica, nascido no inĂcio do sĂ©culo 20 e que mora na avenida Paulista. A primeira parte do romance (“Avenida Paulista, 1922”) se passa no ano de 1922, quando Osvaldo tem 16 anos. A curiosidade e a inteligĂªncia o aproximam do severo professor Celso, que lhe dĂ¡ aula de matemĂ¡tica no Grupo Escolar Rodrigues Alves, escola estadual que funciona atĂ© hoje na avenida. O jovem Osvaldo, fazendo associações matemĂ¡ticas e fĂsicas estimuladas pela descoberta de seu amor pela vizinha Joana, sem saber, comprova, atravĂ©s da trigonometria, a existĂªncia de um ponto mĂ³vel, que estĂ¡ sendo estudado no Brasil pelo professor Celso e na Alemanha pelo vencedor do PrĂªmio Nobel de FĂsica, o famoso cientista Albert Einstein. A segunda parte do romance (“Avenida Paulista, 2022”) se passa no ano de 2022 na mesma avenida Paulista, para onde Osvaldo se desloca apĂ³s cruzar o ponto mĂ³vel em 1922. MistĂ©rio, paixĂ£o, traiĂ§Ă£o e suspense temperam este romance. Os 100 anos da Semana de Arte Moderna e os 200 anos da IndependĂªncia do Brasil sĂ£o lembrados na segunda parte do livro, que acentua os contrastes e as transformações pelas quais a avenida Paulista (metĂ¡fora de SĂ£o Paulo e do Brasil) passa da noite para o dia (ou seja, de 1922 para 2022).
*Obra cedida pelo autor no formato impresso para resenha referente a parceria 2019. As opiniões sĂ£o exclusivamente nossas. NĂ£o houve nenhum tipo de intervenĂ§Ă£o em nossos comentĂ¡rios.*
SĂ£o Paulo, 1922. A Era do CafĂ©. A Primeira Grande Guerra. A Semana de Arte Moderna. O Cinema Mudo. A PolĂtica do CafĂ© com Leite. 100 Anos da IndependĂªncia. Mas Osvaldo... ele se apaixonou por Joana no mesmo dia em que viajou 100 anos adiante no tempo.
No Grupo Escolar Rodrigues Alves, uma escola que fica na Avenida Paulista de 1922, os jovens que interrompem a aula do Professor Celso, um matemĂ¡tico muito sĂ©rio, sĂ£o surpreendidos com arguições surpresa. Uma arguiĂ§Ă£o que aconteceu logo depois de um teste que mudaria a ciĂªncia.
Durante seu teste, ao imaginar as ruas de SĂ£o Paulo que fazem esquina com a Paulista, em Ă¢ngulos trigonomĂ©tricos e fĂ³rmulas perfeitas, Osvaldo sequer poderia pensar que estava revolucionando a fĂsica e que receberia uma carta do prĂ³prio Einstein. Ele, um adolescente de 16 anos, cujo pai era portuguĂªs inventor do Moedor de CafĂ© Oliveira, cuja mĂ£e era espanhola, devota de Santo OlegĂ¡rio, cujos amigos eram imigrantes italianos e cuja menina por quem se apaixonou tambĂ©m fazia compras no mercadinho do Seu Jaime.
"Quando chegou ao Brasil, papai entendeu que SĂ£o Paulo nĂ£o era Lisboa, nem Cascais. NĂ£o era o lugar das castanhas, do pastel de BelĂ©m, dos doces, das frutas da estaĂ§Ă£o. SĂ£o Paulo era a cidade do cafĂ©. Seu futuro e seu presente estavam no cafĂ©: a casa prĂ³pria na Avenida Paulista antes da virada do sĂ©culo, o casamento e a famĂlia cabiam em uma xĂcara de cafĂ©."
AtravĂ©s de suas respostas ao teste, o professor Celso entra em contato com um famoso matemĂ¡tico da USP que estĂ¡ trabalhando com Einstein em uma descoberta sigilosa: o ponto mĂ³vel. Esse ponto, que sĂ³ acontece a cada 274 anos, Ă© capaz de jogar alguĂ©m no futuro, mas apenas se esse alguĂ©m atravessĂ¡-lo durante seu Ă¡pice, na velocidade certa.
E naquele dia cheio de surpresas, cheio de novidades, de vida, de amor, de cafĂ© e de morte, Osvaldo teve de escolher entre ficar ali, em 1922, vendo seu pai nunca mudar, sua mĂ£e sempre rezar para o Santo, sentindo o gosto do beijo de Joana, ou, entĂ£o, saltar adiante, deixar seu passado e todas essas pessoas para trĂ¡s, para sempre.
"As palavras sĂ£o poderosas. Elas nĂ£o cansam de me surpreender. TĂªm um alcance bem maior do que o som que se propaga a partir de nossas cordas vocais."
Assim, Ă s 17h13 do dia 6 de abril de 1922, uma quarta-feira, Osvaldo estava acelerando o Ford T de seu pai pela Avenida Paulista a fim de cortar o ponto mĂ³vel durante seu Ă¡pice, bem ali em frente ao nĂºmero 27, onde ficava sua Casa, a Casa das Rosas.
E entĂ£o... Era 6 de abril de 2022 na Av. Paulista, onde carros sĂ£o proibidos de circular aos domingos. Naquela bela manhĂ£ de domingo, Osvaldo foi saudade pela polĂcia, por roupas diferentes da sua, mĂºsicas desconhecidas, parques iguais de nomes diferentes, prĂ©dios de arquitetura duvidosa, por um novo sĂ©culo.
"A maior descoberta cientĂfica da humanidade desde a invenĂ§Ă£o da roda, para mim, foi o amor. Descobri que o amor Ă© uma emoĂ§Ă£o intensa, elevada Ă dĂ©cima segunda potĂªncia da paixĂ£o, que me faz ter vontade de pensar na Joana uma noite inteira no meu quarto."
A histĂ³ria, que me pareceu meio estranha no começo, depois entrou em mim e nĂ£o quis sair atĂ© que eu fechasse sua Ăºltima pĂ¡gina. Era estranha pelo jeito repetitivo do personagem pensar. Mas com o tempo de leitura, a gente acostuma, a gente entende que sĂ£o pensamentos aleatĂ³rio de um adolescente e que essa aleatoriedade tem ordem.
Osvaldo me pareceu alguĂ©m com TDAH. Distrai-se facilmente, pensa em demasia, e quando estĂ¡ pensando em coisas demais, tem ideias incrĂveis e soluciona problemas. Ele constrĂ³i seus pensamentos de forma lĂ³gica, daquela lĂ³gica matemĂ¡tica mesmo, em sequĂªncias que constatam o Ă³bvio e o incauto. Ele muda o tempo todo, diferente de seu pai, que nunca muda.
Adorei o jeito como o autor trabalhou a questĂ£o histĂ³rica e polĂtica do paĂs atravĂ©s dos pensamentos de um adolescente que acabou de se descobrir apaixonado e prestes a viajar ao futuro.
"A nossa professora de histĂ³ria nĂ£o entendia um conceito bĂ¡sico na fĂsica: o som nĂ£o se propaga no espaço. 100 anos repetindo uma mentira patriĂ³tica nĂ£o foram suficientes para uma professora de histĂ³ria construir o distanciamento necessĂ¡rio para enxergar de maneira crĂtica uma independĂªncia criada artificialmente."
AlĂ©m da histĂ³ria e da polĂtica, o texto Ă© permeado de explicações matemĂ¡ticas, fĂsicas, cientĂficas, todas atravĂ©s do olhar de Osvaldo. Algumas ele mesmo explica, outras sĂ£o explicadas a ele, e ele Ă© um personagem com muito pensamento crĂtico, analisando tudo que lhe Ă© explicado.
Perdido em 2022, se vĂª alvo de 2 grupos de cientistas: aqueles que estiveram trabalhando com Einstein e Hawking para solucionar o mistĂ©rio do ponto mĂ³vel e continuar a pesquisa para salvar a humanidade, e aqueles que querem o conhecimento para ganhar o PrĂªmio Nobel. EntĂ£o, alĂ©m de muito discussĂ£o filosĂ³fica, tambĂ©m temos um pouco de aĂ§Ă£o na histĂ³ria.
Esses altos e baixos fizeram a leitura ser gratificante. Outro detalhe foi o contraste da avenida em 2 momentos do tempo, algo criado pelo homem com a intenĂ§Ă£o de tentar dar significado Ă sua existĂªncia. HistĂ³ria e FicĂ§Ă£o CientĂfica. Passado e Futuro. Exemplo disso Ă© o mercadinho do seu Jaime, que era pequeno e familiar e, no futuro, tornou-se grande e robĂ³tico.
"Era impossĂvel medir em nĂºmeros e fĂ³rmulas o que eu sentia pela Joana. O deslocamento no tempo podia ser provado. O amor nĂ£o cabe em ma folha de papel."
Gosto de romances histĂ³ricos desse jeito, que fazem os fatos histĂ³ricos interagirem com os personagens, que empurram o leitor atĂ© aquela Ă©poca (mesmo que seja uma Ă©poca por vir). O romance Ă© de uma sagacidade Ămpar e merece ganhar mais leitores.
Sobre o AUTOR:
Anderson Borges Costa Ă© coordenador do Departamento de PortuguĂªs da escola internacional Saint Nicholas, em Pinheiros, SĂ£o Paulo, onde tambĂ©m atua como professor de PortuguĂªs e de Literatura Brasileira. É professor de InglĂªs no curso Cel Lep. É crĂtico literĂ¡rio e resenhista de livros para vĂ¡rias revistas de arte e literatura, como a Germina, onde assina a coluna "Adrenalina nas Entrelinhas". Formado e pĂ³s-graduado em Letras (PortuguĂªs, InglĂªs e AlemĂ£o) pela Universidade de SĂ£o Paulo. Em setembro de 2018, lançou seu segundo livro, desta vez de contos, cujo tĂtulo Ă© “O Livro que nĂ£o Escrevi”, e em 2019 lançou o terceiro, "Avenida Paulista 22", ambos pela Editora Giostri.
CĂ¡ entre nĂ³s, eu curti bastante, pois, alĂ©m de gostar muito de romances histĂ³ricos com o Brasil de pano de fundo, adoro essas teorias cientĂficas.
Espero que vocĂªs curtam a leitura tambĂ©m!
Até + ver!
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